sábado, 18 de fevereiro de 2012

BRASIL A FORA: SEM SAMBA, SALGUEIRO É IMPULSIONADO POR FORRO E FUNERÁRIA

Sede do Salgueiro-PE (Foto: Tiago Medeiros / GloboEsporte.com)No calor de uma campanha eleitoral pela Prefeitura de Salgueiro, município localizado a 518km do Recife, no Sertão pernambucano, um compromisso nada comum foi assumido no palanque. Os empresários Aílton Souza (então candidato a vice-prefeito) e seu amigo Clebel Cordeiro prometeram, em caso de vitória, profissionalizar o clube amador mais antigo da cidade, que tem nome de escola de samba, mas vê o ritmo mais brasileiro passar distante da aridez da região.
Passado o pleito, Aílton Souza não conseguiu se eleger, mas quis pôr em prática o desejo de fazer com que o Salgueiro, fundado em 1972, disputasse competições oficiais e a cidade entrasse nos noticiários por um motivo mais ilustre. Antes, a terra era conhecida apenas por integrar o polígono da maconha (região que abraça o Sertão da Bahia e de Pernambuco).
Salgueiro - camisa banda de forró, casa funerária (Foto: Divulgação)Foi aí que a parceria singular que sustenta o clube sertanejo entrou em ação. Para conseguir formar, em 2005, a equipe que disputaria a Série A2 do Campeonato Pernambucano, o Carcará (ave de rapina comum na região) precisou que seus idealizadores investissem, tirando dinheiro do próprio bolso.  Ambos, inclusive, já haviam participado das atividades do time na época do amadorismo. Aílton Souza desempenhou a função de gandula, enquanto Clebel Crodeiro foi goleiro. Já no primeiro ano de profissionalismo, ainda em 2005, conseguiram o acesso do time à Primeira Divisão do Pernambucano.E se não havia samba na cidade, tinha forró. E caixões. Aílton Souza, dono da banda Limão com Mel, e Clebel Cordeiro, proprietário de uma funerária, se uniram e decidiram fazer com que suas empresas vestissem a camisa vermelha, branca e verde.
- Queríamos devolver à cidade tudo o que ela nos deu. O Salgueiro precisava de investimento e de uma equipe de futebol para movimentar a cidade - explicou Clebel Cordeiro, atual presidente do clube.
Estourando nas paradas
O Tricolor Sertanejo, ainda aprendendo a “dançar” com as próprias pernas, não se segurou no ano de estreia na divisão principal do Campeonato Pernambucano e foi rebaixado. Em 2007, veio a volta por cima: campeão da Série A2. A partir daí, o Salgueiro não parou mais.

Na temporada seguinte, com um quarto lugar no Estadual, o time conquistou uma vaga na Terceira Divisão do Brasileiro. Três anos depois, a equipe já pintava entre as 40 melhores do país, na tão disputada Série B. Na comemoração pelo acesso, muita festa e carreata pela cidade, com show de forró, é claro, da Limão com Mel.
- Esperávamos, sim, chegar algum dia na Segunda Divisão, mas não da forma como aconteceu. Foi tudo muito rápido. O sentimento de orgulho foi tão grande quanto o de ver um filho tendo sucesso na vida – relatou Clebel Cordeiro.
Um dos grandes responsáveis pelo êxito do Salgueiro foi o treinador Neco, ex-meia, campeão brasileiro de 87 pelo Sport Club do Recife. O técnico chegou ao clube em 2007, e, entre algumas idas e vindas, permanece no comando da equipe até hoje.
- Neco tem uma relação de amizade muito boa conosco. Acreditamos no trabalho dele, e, mesmo com alguns resultados ruins que aconteceram no passado, ele tem a total confiança da diretoria e da torcida do Salgueiro para exercer seu trabalho – disse José Guilherme, ex-presidente.
Neco, técnico do Salgueiro (Foto: Tiago Medeiros / GloboEsporte.com)
Verde de esperança
A história de José Guilherme é um dos maiores exemplos da forte relação entre a cidade e o Salgueiro Atlético Clube. Na época da profissionalização, ele tinha o desejo de ajudar o time de alguma maneira. Como não dispunha de aporte financeiro, se ofereceu a ser condutor do ônibus da equipe. De motorista, foi nomeado diretor, chegando posteriormente à presidência.
- Salgueiro é uma cidade pequena e muito carente. Antes, a população vivia chateada pelo fato de o município ser conhecido como um dos integrantes do polígono da maconha. Hoje, o povo está mais feliz, e a prova disso é que cerca de 15% da população da cidade comparece aos jogos.
Segundo dados do IBGE, o município de Salgueiro é habitado por 56.641 pessoas. A média de público do time no Campeonato Pernambucano é de 7.375 torcedores, contando somente o público pagante.
Obras no estádio Cornélio de Barros, Salgueiro-PE (Foto: Tiago Medeiros / GloboEsporte.com)
Apesar da fraca campanha na Segundona do ano passado, que resultou no rebaixamento à Série C, várias melhorias estão sendo feitas no clube para que o Carcará continue voando alto. Por ter chegado à Série B, o Salgueiro ganhou um presente do governo de Pernambuco. A reforma do seu estádio, o Cornélio de Barros, foi concluída em fevereiro, com a capacidade elevada de 5 mil para 12 mil pessoas.
A modernização não fica somente na reforma do estádio. Já está sendo construído um centro de treinamento na cidade, com três campos oficiais e estrutura adequada para a preparação do time sertanejo.
Assim, se depender do hino do clube, feito pelo forrozeiro e compositor da Limão com Mel, Zezito Doceiro, o Salgueiro, que tem no Pernambucano-2012 o melhor começo de uma equipe sertaneja até então, continuará “caçando” seus oponentes na busca para se consolidar como uma grande força do futebol nordestino.
Carcará, pega, mata e come.
Carcará, não vai morrer de fome.
Carcará, mais coragem do que homem.
Carcará, pega, mata e come!
fonte: Pedro Costa/globo.com

0 comentários:

Postar um comentário